sábado, 13 de agosto de 2011

A Árvore da Vida

Não acredito que uma obra de arte precise ser hermética para ter qualidade. Acredito que é possível um artista passar a mensagem pretendida de maneira simples. Se não fosse assim, não falaríamos até hoje de Manuel Bandeira ou Beatles. Dizer as coisas mais complexas de maneira simples é um dom talvez mais especial do que sobrepor camadas e camadas de uma poesia distante da maioria dos leitores.

A Árvore da Vida, de Terrence Malick enquadra-se no segundo tipo: um filme muito bonito, muito poético, muito longo e muito difícil. Treze anos depois de realizar Além da Linha Vermelha, o diretor mantém o mesmo tom. A ação fica em segundo plano, o que importa são as sensações, os questionamentos dos personagens a respeito da vida, de Deus, do amor e de tantos outros universalismos que a maioria de nós prefere deixar pra lá, porque a vida prática já é muito cansativa.

A tênue linha narrativa concentra-se numa família, aparentemente dos anos 1950, que é abalada pela morte de um dos filhos. A partir desse evento é que começam os questionamentos citados acima. E o diretor vai buscar a resposta através da história do universo, começando pelo Big Bang. A morte de uma criança e o decorrente sofrimento dos pais e dos irmãos são insignificantes em relação ao tamanho do Universo. Deus se perde naquela imensidão e por isso ele não dará resposta para aquela mãe (Jessica Chastain) que chora a perda do filho. Não há por quê. É assim, é ao acaso.

A outra ponta da narrativa converge para o filho mais velho do casal (Hunter McCracken/Sean Penn), já adulto e aparentemente atormentado. E daí a história volta até o seu nascimento, em seguida o nascimento dos irmãos. Revela-se então o egocentrismo do personagem, o confronto com o pai autoritário (Brad Pitt), a segurança nos braços da mãe carinhosa e as consequências que isso acarreta. Emblemática é a frase do garoto numa conversa com o pai: “Vocês lutam dentro de mim”.

Decidir assistir a esse filme não é o bastante. Algumas pessoas saíram da sala antes dos quinze minutos de projeção. Ao final muitos em silêncio ou supondo teorias a respeito do tema do filme. Alguns tentavam definir o que era a tal “árvore da vida”. Mas não é bem assim. Há as obras que se deve entender, há as que se deve sentir. A Árvore da Vida definitivamente é daquelas que remetem a sensações, não a conclusões racionais. É daqueles filmes que servem como exemplo de filme de arte — afinal não se ganha a Palma de Ouro em Cannes à toa — mas peca por deixar de fora o leitor comum. Parodiando o referido Manuel Bandeira, “sou espectador menor, perdoai”.

Filipe Teixeira

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