quinta-feira, 28 de julho de 2011

Meia Noite em Paris

Existe uma linha tênue entre um estilo peculiar e uma repetição chata. E Meia Noite em Paris empurra o seu diretor Woody Allen para o lado contemplado dessa divisão. Mais uma vez ele começou seu filme com vários planos gerais da cidade e um jazz tocando ao fundo, mas antes que eu considerasse isso mais do mesmo, percebi que a introdução se estendia além do normal, a sucessão de belas imagens de Paris não parava nunca, só teve fim depois que tocou a música inteira. Não era apenas uma mera apresentação do espaço onde a história ia acontecer, ele estava conduzindo o espectador a um deleite por Paris, por uma bela cidade ao som de uma bela música, ele queria que sentíssemos o que se sente ao chegar lá, uma grande inundação das belas artes em nossos sentidos. Pronto, estávamos dentro do universo do filme, a história pode começar.

E o filme inteiro foi isso, um passeio pelo mais alto escalão das artes, principalmente a literatura. Pois é a história de um escritor iniciante, Gil Pender, que visita Paris com a família da sua noiva e tenta se inspirar para escrever seu livro. A viagem não está sendo grande coisa, a noiva, a família e os amigos são um saco, mas ele está em Paris e alguma coisa tem que lhe inspirar. Então ele começa a fazer misteriosos passeios noturnos pela Paris que sempre quis conhecer, a Cidade Luz dos anos 1920, e passa a encontrar seus grandes ídolos da época: Scott Fitzgerald, Cole Porter, Ernest Hemingway, T.S. Eliot, Picasso, Salvador Dali, Luis Buñuel etc. e se apaixona por uma bela musa, Adriana.

Trata-se metaforicamente de um autor revisitando seus autores preferidos em busca de inspiração para escrever. Mas isso fica por minha conta. O escapismo é o grande tema do filme, o modo como idealizamos um lugar onde tudo é belo e canalizamos toda nossa vontade de conhecer este lugar e fugir da realidade. Este tema já foi abordado pelo diretor no filme A Rosa Púrpura do Cairo e num conto famoso dele chamado O caso Kegelmass, em que o protagonista é levado para dentro do romance Madame Bovary. O saudosismo é o sentimento que move o protagonista, que no início da história diz escrever um livro sobre um dono de uma loja que vende coisas retrôs.

Temos muitas características que encontramos em quase todos os filme de Woody Allen: o jazz na trilha, os lindos planos de paisagens com seus takes longos, uma fotografia meio dourada, adultério e o fato de seu protagonista ser um artista em crise de criatividade. Owen Wilson interpretou o personagem que anos atrás teria sido do próprio Allen, e ele conseguiu lembrar até mesmo muitos trejeitos do diretor, mas adquirindo uma personalidade própria, mesmo que seja a personalidade que ele faz em todos os filmes que participa.

O grande barato do filme é mesmo a caracterização das figuras históricas da literatura, fazendo ótimas piadas como a do Picasso ser temperamental, Hemingway, um cara durão e de apenas surrealistas entenderem quando Gil diz que é de outro mundo. Estava apreensivo sobre como o filme ia explicar as viagens no tempo. Qualquer explicação idiota estragaria tudo. Mas Woody Allen é Woody Allen, com uma curta cena ele nos deixou confortáveis em apenas pensar que as coisas aconteceram assim e pronto.

Gladson Caldas

Um comentário:

  1. cara, achei o hemingway fantástico nesse filme. todos os personagens estão muito bem caracterizados, mas ele ficou demais!

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