Uma das palavras que mais se repete em Cyrus, de Jay Duplass e Mark Duplass, é “weird”, que, em inglês, significa “estranho”. E na maioria das vezes em que ela é usada, quem a pronuncia está se referindo à sinceridade com que outro personagem abordou um assunto. Mas estranho mesmo é a honestidade ou a sinceridade receberem esse adjetivo, enquanto a hipocrisia imposta pelas convenções sociais é o aceitável. E é assim que se desenrola o roteiro de Cyrus, baseando as ações de seus personagens na sinceridade, provando que nem sempre as máscaras sociais são a saída para as relações entre as pessoas.
A história engloba poucos personagens: John (John C. Reilly) e Molly (Marisa Tomei) se conhecem numa festa e ele vê nessa relação uma chance de recomeçar sua vida desde que se divorciou de Jamie (Catherine Keener), sete anos antes. Porém, para isso, John precisa se entender com o filho de Molly, Cyrus (Jonah Hill).
O filme inteiro é baseado nos diálogos entre seus personagens. Primeiramente entre John e Jamie. Em seguida, entre John e Molly. Na maioria das falas de John, ele deixa transparecer que não mascara a realidade para ficar numa situação mais confortável. Ele é espontâneo e prefere falar a verdade, o que às vezes tem um resultado ruim, como quando tenta se aproximar de umas garotas na festa de noivado de Jamie ou quando liga para ela de madrugada, mas, na maioria das vezes, sua honestidade, revelada pelo despojamento de suas palavras, trazem-lhe muitos benefícios, dentre os quais a relação com Molly.
Quando Cyrus entra em cena, porém, é mostrado o outro extremo dessa espontaneidade, que, se não respeitar a falta de intimidade dos interlocutores, pode constranger e demandar explicações embaraçosas. Mas John não quer permitir que Molly se vá de sua vida, por isso submete-se conviver com os problemas que Cyrus pode lhe causar.
Embora não aparente em suas atitudes ou palavras, Cyrus vê em John um entrave na relação com a sua mãe, e isso culmina em atitudes cujo resultado é a separação do casal. É nesse momento em que tanto Cyrus quanto John vão precisar encontrar um equilíbrio no uso de sua sinceridade, pois, se ela não existir, a relação tornar-se-á inviável, porém, se existir em excesso, inviabilizará a convivência.
Exemplo disso é quando Cyrus decide morar sozinho e John diz a Molly que tudo vai ficar bem. Isso parece distanciá-los, pois é o que qualquer um diria, mas, quando ele percebe que pode ser sincero com ela e diz que não, que a decisão de Cyrus foi errada e que as coisas não vão ficar bem, ela diz que se sente muito melhor e abre um sorriso.
Dessa forma, os diretores e roteiristas Jay Duplass e Mark Duplass, através de uma história simples, dão uma lição e tanto numa sociedade que, como diria o filósofo e ensaísta Luiz Felipe Pondé, precisa da hipocrisia para funcionar. Até certo ponto, sim, afinal ela serve como defesa, mas quando vira regra de conduta, pode nos tornar vazios. Por isso, os personagens de Cyrus parecem “estranhos”, porque são sinceros e espontâneos, despindo-se de qualquer amarra imposta por uma sociedade que se esconde atrás de um véu chamado hipocrisia.
Filipe Teixeira