sexta-feira, 18 de março de 2011

O Discurso do Rei

Vencedor do Oscar 2011 nas principais categorias – melhor filme, melhor diretor (Tom Hooper), melhor ator (Colin Firth) e melhor roteiro original (David Seidler) – e indicado em mais 8 categorias, O Discurso do Rei é um filme impecável. Tem todas as características de um grande filme: roteiro bem montado, direção precisa, atuações seguras, fotografia e figurino limpos etc. É um filme que não pede ao espectador para olhar no relógio quanto tempo falta para acabar a sessão. Não porque empolga pela ação, mas porque não causa enfado com diálogos longos nem com paradas para explorar a trilha sonora – que é bem discreta, mas de qualidade.


A despeito da qualidade cinematográfica, alguns historiadores reclamaram que o filme não retrata de maneira fiel a história, mas estamos aqui para falar da qualidade da obra de arte, não da sua fidelidade à história real – embora esse tipo de crítica seja recorrente quando se trata de filmes baseados em fatos reais ou em obras literárias.


Filmes sobre a realeza britânica, volta e meia, aparecem – e aparecem bem –, como os recentes A Rainha e Elizabeth – A era de ouro. O monarca escolhido desta vez foi George VI, pai de Elizabeth II, a atual rainha da Inglaterra (vivida em A Rainha pela premiada Helen Mirren). Tentando curar seu problema de gagueira, o ainda príncipe Albert (Colin Firth) – Bertie para a família –, segundo na linha de sucessão ao trono, procura a ajuda de Lionel Logue (Geoffrey Rush), uma espécie de fonoaudiólogo da época. O príncipe Albert, primeiramente, desconfia dos métodos nada ortodoxos de Lionel, mas quando seu irmão, Eduardo VIII (Guy Pearce), abdica do trono para casar-se com uma americana divorciada, não resta alternativa ao príncipe senão confiar em Lionel, pois cabe a Albert assumir o trono da Inglaterra. E um rei, mesmo gago, precisa fazer discursos.


Muitos são os eventos que se sucedem durante as quase duas horas de projeção, mas a montagem linear e as legendas para situar o espectador no tempo e no espaço não deixam lacunas a respeito do encadeamento desses eventos, que desembocam na prova de fogo do agora Rei George VI: o primeiro discurso como monarca britânico em pleno início da Segunda Guerra Mundial.  Quando Colin Firth e Geoffrey Rush contracenam, temos as melhores sequências, tanto nas cenas mais dramáticas quanto nas mais cômicas. Guy Pearce, que escolhe seus papéis a dedo, e Helena Bonham Carter, a versátil e inesquecível Marla Singer de Clube da Luta, completam o elenco principal, ao redor do qual a história é conduzida.


A fotografia e o figurino mostram uma Londres nublada e opaca por uma densa neblina, talvez numa referência aos tempos sombrios de guerra que viriam. Tudo parece estar úmido e triste, dando o tom da tensão vivida pelo futuro rei.


E se há um problema em O Discurso do Rei é a forma nada original como a história é contada. Como foi dito acima, recebeu os principais Oscar de 2011, pois, reitero, é um filme impecável, mas só o é justamente porque não corre o risco de ser inesquecível. Está tudo no lugar, e da maneira como normalmente encontramos, como em Uma Mente Brilhante, O Paciente Inglês, Coração Valente, filmes que não coincidentemente levaram o maior prêmio da Academia.


Filipe Teixeira

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