domingo, 8 de maio de 2011

127 Horas

As cenas iniciais de 127 Horas, de Danny Boyle, lembram o ótimo Trainspotting, do mesmo diretor. Enquanto surgem os créditos, são exibidas multidões: a largada de uma corrida de rua, uma mesquita em horário de oração, uma estação de trem na hora do rush etc. Então a tela é dividida em três e as cenas descritas anteriormente são mescladas com as em que o alpinista Aron Ralston (James Franco) prepara-se para sair de casa. Seguem-se mais algumas cenas até que Aron desce de sua caminhonete já montado numa mountain bike em meio a Canyonlands, no estado americano de Utah. Ele cai, levanta, pedala mais um pouco, amarra a bicicleta em uma árvore e segue caminhando pela infinitude de areia e pedra em tons de laranja até encontrar duas garotas perdidas, Kristi (Kate Mara) e Megan (Amber Tamblyn), para as quais se oferece de guia. Após um tempo com as garotas, ele se despede e continua sua caminhada.

A agilidade da edição, de Jon Harris, faz com que os fatos narrados no parágrafo anterior sejam apresentados em muito pouco tempo de filme, principalmente porque são acompanhados pela eletrizante trilha assinada por A. R. Rahman, que também compôs a de Quem Quer Ser um Milionário?, também de Boyle. Mas, muito além das canções que servem de fundo para as cenas, os outros componentes da trilha sonora foram encaixados com tanta competência que potencializam as sensações do protagonista, trazendo o espectador cada vez mais para dentro da história. (Só não exemplifico porque aí já seria spoiler).

Mas 127 Horas é muito mais que isso. O enredo concentra-se na parte em que Aron prende o braço direito numa rocha após cair numa fenda. O ritmo passa a ser completamente diferente. A ebulição de sensações dá lugar ao drama do protagonista, que está no meio do nada, quase sem comida e sem água. A ágora dá lugar ao claustro. As multidões das cenas iniciais dão lugar à solidão do deserto. Um desafio para o diretor, mas, como Hitchcock – que filmou Disque M Para Matar em um quarto e disse que faria um filme dentro de uma cabine telefônica, se fosse necessário – Danny Boyle não perde a mão e explora cada milímetro do resumido “cenário”, presenteando-nos com um drama extraordinário.

A experiência de Aron em alpinismo contribui para que ele sobreviva às condições em que se encontra, mas sua mente começa a lhe trair assim que fica debilitado devido à falta de água e de comida. Nesses momentos, mais uma vez se sobressaem a trilha e a edição, somando-se à excelente fotografia de Enrique Chediak e Anthony Dod Mantle (que assina também a fotografia de Quem Quer Ser um Milionário?).

Levando-se em conta as qualidades técnicas e artísticas, 127 Horas já seria um filme espetacular, mas a substância deste filme chama-se, na verdade, James Franco. Na maior parte do filme, seu corpo está praticamente parado e sua atuação concentra-se nas expressões de seu rosto. A euforia, o desespero, a dor, a tristeza, a saudade, enfim, todas as suas sensações envolvem o espectador, dada a competência com que são representadas pelo ator, que ganhou o Independent Spirit Awards e concorreu a vários outros prêmios.

Assim como Clint Eastwood e Steven Spielberg, Danny Boyle realiza grandes filmes com assuntos e estruturas narrativas diferentes, embora, obviamente, sua marca fique clara nas eletrizantes sequências e nos seus protagonistas que encontram a redenção (ao contrário de diretores como Almodóvar e Tarantino, que são também geniais, mas cujos filmes parecem partes de uma mesma grande obra). Com 127 Horas, portanto, o diretor entra definitivamente, para a categoria de diretores não só geniais, mas versáteis.

Um comentário:

  1. De fato é um grande filme! Danny Boyle mostra toda a sua versatilidade e consegue arrancar de James Franco o seu último suor, trazendo sobremaneira, uma sensação de agonia e, ao mesmo tempo, reflexão ao público. Recomendo!

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