domingo, 1 de maio de 2011

Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano

Bollywood Dream – O Sonho Bollywoodiano, primeiro longa-metragem de Beatriz Seigner, conta a história de três amigas que vão para a Índia no intuito de atuar na indústria cinematográfica indiana, a maior do mundo, que produz cerca de mil filmes por ano. A história nasceu de uma conversa da diretora com Paula Braun e Lorena Lobato, que compõem o elenco (que conta ainda com Nataly Cabanas) e resultou na primeira co-produção Brasil-Índia, cujo orçamento foi de apenas US$ 20 mil.

O baixo custo da produção contribui para o tom intimista da obra. Enquanto as protagonistas vão em busca de um produtor de cinema com o qual uma delas teve um breve contato, elas conhecem os costumes do lugar. Em alguns momentos, o longa chega a ter um aspecto de documentário, pois os muitos indianos que aparecem no filme não eram figurantes, suas reações eram espontâneas ao contato com a câmera.

Espontâneas também são as falas das personagens. Embora haja uma linha narrativa, os diálogos e as marcações são improvisados, o que nem sempre resulta positivamente, mas retrata o estado de desorientação das personagens, que tem sua mais clara representação quando elas têm que escolher entre pegar a estrada da direita ou da esquerda, mas não sabem para qual lado devem ir.

A diretora do filme, que também assina o roteiro e a fotografia, morou na Índia e produziu e roteirizou documentários dirigidos pelo cineasta indiano Ram Prasad Devineni. Talvez dessas experiências tenha surgido a idéia de dar às personagens os sobrenomes dos heterônimos de Fernando Pessoa (Caeiro, Reis e Campos), para que cada uma seguisse os vários caminhos que possivelmente Beatriz Seigner pensou em seguir.

Ao longo da narrativa, surgem alguns insights filosóficos, como “a dor é o que une todos os povos” ou “a estagnação (e não a guerra ou a violência) é o oposto da paz, segundo o I-Ching”. Mas na maioria das vezes não soam naturais, a não ser quando essas conclusões são resultado do choque cultural entre as personagens – ocidentais, materialistas – e o povo indiano – extremamente espiritual. Um exemplo é quando elas estão filmando um ritual religioso e um habitante local pergunta por que. Uma delas responde que é para eternizar o momento. Então o popular responde: “Isso acontece há milhares de anos, já é eterno”.

Bollywood Dream lembra dois ótimos filmes recentemente realizados na Índia por ocidentais. O primeiro deles e cuja referência é mais perceptível, é Viagem a Darjeeling, de Wes Anderson, que trata de uma viagem espiritual de três irmãos pelo país de Gandhi; o segundo é Quem quer ser um milionário?, que deu a Danny Boyle o Oscar de melhor diretor em 2009 e mostra o lado pobre desse país cuja economia é considerada a quarta maior do mundo. A vantagem do filme de Beatriz Seigner, entretanto, é que, com um orçamento infinitamente menor, evidencia essas características com a mesma sinceridade.

Filipe Teixeira

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