Lançado em 2008, Chuva (de Paula Hernández) chega aos cinemas brasileiros três anos depois. Como a expectativa é a mãe da decepção, essa demora seria um grande risco, principalmente por ser o primeiro longa de ficção da diretora depois do premiado Herencia, de 2001. Mas, apostando numa linha narrativa segura, mesmo que comum, o filme se mantém firme e, embora não empolgue, não desagrada, a não ser pelas gags inoportunas que destoam do tom dramático.
Chove torrencialmente em Buenos Aires, Argentina. O trânsito está caótico, e Alma (Valeria Bertuccelli) está presa em um gigantesco engarrafamento. Subitamente, Roberto (Ernesto Alterio) entra no carro de Alma. A partir desse encontro, a vida dos dois será destrinchada e seus dramas revelados aos poucos. Vários detalhes, como o vidro quebrado do carro de Alma ou o corte na mão de Roberto são decifrados ao longo da projeção (às vezes recorrendo a flashbacks), o que prende a curiosidade do espectador, mas os muitos silêncios entre uma revelação e outra deixam o filme desnecessariamente lento.
Ambos os protagonistas vivem momentos epifânicos em suas vidas. Alma acabara de sair de casa e fez de seu carro casa; Roberto viera da Espanha, pois seu pai está morrendo em Buenos Aires. Os conflitos pelos quais ambos passam os deixam fragilizados e eles vêem no outro uma válvula de escape, em todos os sentidos: tanto para se descontraírem quanto para despejarem no outro suas frustrações.
A chuva que cai por vários dias na cidade reflete o momento de cada um. Não é uma metáfora profunda, mas a forma como se coloca não é acintosa, portanto, para um espectador menos atento, só está chovendo. Porém as cenas finais do filme mostram que a tempestade que escurecia os corações dos protagonistas se desfez. Cada um encontra a cura de suas feridas, embora ainda precisem de um tempo para cicatrizá-las.
O abandono é o tema central da obra. Enquanto Alma larga o marido, Roberto revela-se desamparado pelo pai que está morrendo. Estando em situações opostas, ao longo da trama eles constroem um modo mais brando de ver suas próprias condições. A chuva atua como um termômetro da relação dos dois, pois aumenta com a tensão entre eles e diminui quando se entendem.
Como diria a música dos Engenheiros do Hawaii, os personagens de Chuva estão entre a solidão e a cidade. Literalmente. Pois a relação entre eles começa num engarrafamento de uma metrópole e se desenvolve nas ruas, nos cafés e nos restaurantes dessa mesma metrópole. Contudo o que se apreende de cada um deles é quão sozinhos eles são.
Filipe Teixeira
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